18 maio 2010

FIM

Então é chegada a hora de desistir. De parar de insistir. De deixar ir. De não ir mais atrás. De aceitar a mudança. É chegada a hora de abandonar o sonho.

 

Eu, que tantas vezes falei sobre sonhos – os realizados, os perdidos, os roubados, os vendidos, os compartilhados, os recorrentes, os enterrados – hoje venho falar sobre os sonhos abandonados. Aqueles que a gente sonha com todo o carinho, mas chega a hora de admitir que não são pra nós. Chega a hora de admitir que temos de deixá-los para trás. Temos que parar de sonhá-los para que eles não nos consumam, para que não estraguem nossa própria capacidade de sonhar.

 

th_edmund_condentNão é muito fácil, e normalmente esse abandono só vem pela dor. É assim com aquele negócio que você queria tanto fechar, mas na última hora ficou sem recursos pra concluir. Assim com aquela cidade que você queria tanto viajar pra conhecer, mas que na hora de fechar o pacote, não havia vaga no hotel. Assim com aquele trabalho que você queria tanto fazer, mas bem na hora alguém fez antes de você. Assim como aquela pessoa que você ama tanto, mas tanto, e tanto, só que uma hora percebe que ela não ama você do mesmo jeito. É assim com aquele bebê que você queria tanto ter, ou com aquele carro que você queria tanto comprar, ou com aquele amigo que você queria tanto conservar, ou com aquela oportunidade que você não queria perder. Não deu. Simples assim. É hora de abandonar o sonho. Não que ele tenha morrido, mas precisa ser deixado como está, incompleto e triste em sua essência, amarrado ao passado. Uma cruz na beira da estrada, uma canção inacabada, algo que tinha tudo pra ser, mas não foi. Simplesmente deixado. E a atitude tem que vir de você.

 

E não é fácil. Dói. Um sonho abandonado precisa ser encarado antes de ficar para trás. E olhar pra ele dói. Dói porque desistir de um sonho cultivado é desistir de uma parte de si mesmo. A gente investe energia, investe tempo, investe dinheiro, investe coração, investe esforço. Mas se não dá, não dá. Aposta errada. É necessário aceitar isso para seguir em frente.

 

Não acho que investir em um sonho, seja ele qual for, seja tempo perdido. Nunca é. Como disse o sábio Ulisses enquanto fazia sua Odisséia, o importante é o caminho, não a chegada. Mas é verdade que nos custa admitir que a vida, que tantas vezes se mostra plena, bela e voluptuosa, também sabe se mostrar mesquinha e medíocre, e nos negar o que mais desejamos. E por isso dói a desistência. Desistir é prova do nosso fracasso, mas não desistir é prova da nossa teimosia, da nossa burrice. É preciso deixar ir.

 

Não deixar isso virar amargura é uma tarefa difícil, mas não impossível.

 

Dar adeus a um sonho, seja ele qual for, dói, sim. Mas é libertador. Extremamente libertador.

 

Não sei que imagens meu inconsciente me trará daqui a pouco quando eu for dormir as poucas horas que me restam até amanhã, mas sei que hoje algo foi abandonado aqui dentro, por mim. Estou cansada de tentar realizar aquilo que não é pra mim. Cansada de ser deixada em segundo plano por meus próprios sonhos cultivados. A vida precisa se renovar em mim. E assim será.

 

Simplesmente porque eu decidi dizer adeus ao que não pode ser realizado. Vou sentir saudade, claro que vou. Mas quero e preciso ir mais longe, mais alto, mais distante. E irei… Porque amanhã vai ser dia de sonhar outros sonhos. Mais lindos e mais intensos.

 

Então, adeus sonhos antigos. Foi bom enquanto durou. Mas agora há outros horizontes a enxergar, porque meus olhos também estão novos.

 

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