11 maio 2009

Brave heart

 Este é para os solteiros.

Tenho muitos amigos, e, como dizia o Renato Russo, os celebro todo dia. São pessoas ótimas, porque já passei da fase de me obrigar a aturar gente ruim. Não são bandidos, gente honesta, que sabe rir, sabe brincar, sabe ajudar, sabe chorar. Pessoas que estão na luta pra ser alguém melhor todos os dias. Muitos deles são bonitos, e nenhum deles é uma aberração de feio. Homens e mulheres, gente legal, gente difícil, com ou sem dinheiro, gente de 15, 25, 35, 50, 65 anos, que trabalha nas mais diversas profissões. Gente como eu. E ultimamente, a maior parte deles me vem falar do mesmo assunto, incessantemente, sempre que me vê ou conversa comigo. “Mafaldinha querida, a coisa que eu mais quero na vida é ter alguém pra amar e ser feliz. Mas não consigo.”

As razões são as mais diversas possíveis. Sou traumatizada. Não gosto de compromisso. Não consigo dividir. Só acho homem canalha. Não tenho tempo pra relações românticas, trabalho demais e é assim mesmo. Estou esperando a pessoa certa. Ninguém consegue balançar o meu coração. Ele é egoísta. Ela é inconstante. Ele é galinha. Ela é fútil. Ele liga demais. Ela liga de menos. Já fui muito magoada. Não confio e nem acredito mais. Não suporto mais, mas já me acostumei com ele. Posso viver melhor sem. Não tenho paciência. Ninguém se enquadra nos meus critérios. Nenhum deles presta. São todas vaganundas. Tenho um, mas queria ter vários. Tenho várias, mas no fundo não tenho nenhuma. O mundo é cruel. As pessoas são más. E ninguém me ama, ou pelo menos parece que quer me amar. E assim seguimos, todos procurando. Mas ninguém acha ninguém.

Por trás de todos os discursos, engraçadinhos, sofridos ou articuladamente racionais ( inclusive o meu ), dá pra ouvir nitidamente a mesma lógica. Tenho um medo terrível de me envolver; porque, pra me envolver, preciso me expor. E se me expor, posso ser machucado demais. E fungindo da dor, vamos nos metendo em confusões cada vez piores, armadilhas cada vez mais sofisticadas. E deixando doer cada vez mais, afastando o que mais queremos ter. E quero ver quem prova que estou errada.

Essa coisa de felicidade no amor é um prêmio pros corajosos. Precisa muita coragem mesmo pra amar. Coragem pra dar sua cara a tapa, correndo sérios riscos de levar um safanão. Não é pra qualquer um mesmo.

Essa coisa de amor dá muito trabalho. Gasto de dinheiro, noites em claro. É muito difícil aturar as manias dos outros. Se coloca em xeque os preconceitos, as idéias pré-concebidas. Muitas vezes, tem que se fazer escolhas difíceis. Outras muitas vezes, tem que se ser sensível o suficiente pra perceber as necessidades do outro e considerá-las, ainda que sejam contrárias as suas. Há que se abrir mão de muita coisa também - de paquerar todo mundo a qualquer hora, de programinhas antigos, de velhos passeios, de pessoas, de hábitos, de objetivos. E, o mais difícil - tem que se aprender a mudar! Mudar, sim. Porque todo mundo muda. E quando a outra pessoa muda, ou a gente muda junto ou deixa ela se afastar. E pra mudar, se mexe em feridas que muitas vezes dóem. E lá vai mais esforço… E tudo isso por algumas horas de felicidade. Não parece muito rentoso.
 
pegadas
A verdade é que a gente paga um preço pra amar alguém. E paga também um preço pra ficar sozinho. E, pensando que o preço de amar é muito alto, acabamos esquecendo que ficar sozinho também não é nada fácil. Assim como a adrenalina da paixão é viciante, também é viciante a apatia da solidão. E assim, vamos ficando cada vez mais defendidos, mais cheios de manias, nos apegando a esse monte de coisas que conquistamos e que são boas, sim, mas não completam. Tsc.

Amigos, eu que tantas vezes os escuto atenciosamente e calada, e tantas outras vezes falo sem saber o que estou dizendo… Pensei muito e acho que é hora de nos mexer, que sem esforço não vai rolar nada mesmo.

Primeiro, limpar a vida dos amores mal resolvidos, mágoas, medos infundados, sonhos impossíveis, pessoas que só querem acabar com o que temos de bom. Mandar toda essa gente pro seu devido lugar, bem longe, acomodados no nosso passado, ou longe da nossa vida, e deixar um espaço livre pra alguém legal chegar.

E depois… Parar com os discursos de que nossa integridade pessoal está acima de tudo. Está nada. E parar com esse papo de que nos bastamos sozinhos. Balela. A verdade é que quem não tem alguém não pode ser feliz de verdade. Parar de ter vergonha de se expor, vergonha de acariciar, de falar, de tocar, de rir, de comer perto, de tirar a roupa, de se soltar na cama e fora dela. Parar de interpretar um papel e de ficar tentando adivinhar o que o outro espera de nós. Parar de ficar vendo pêlo em ovo, e simplificar as coisas. Dar um jeito de nos livrarmos dessas velhas manias bobas que estamos criando, de achar que tudo tem que ser perfeito, de ficar esperando alguém que preencha nossos requisitos, de ficar sonhando com o príncipe ( ou princesa ) encantado, de ficar cheio de dedos pra falar de sentimentos e tentar, quantas vezes for necessário, até criar uma casca mais grossa. Precisamos crescer e aparecer. E parar de nove-horas. Parar de nos apegar a preconceitos estéticos, práticos e morais que são uma desculpa pra não amar de verdade. É isso, ou assumir logo que preferimos ficar sozinhos e pronto, deixando de choramingar na frente do espelho. É isso ou não vamos parar de ficar correndo atrás do próprio rabo. Pra isso, claro, vamos precisar de coragem.

Eu não tenho ainda. Mas vou dar um jeito de ter, nem que seja aos poucos. Ah, se vou. Me aguardem.

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