19 junho 2010

Verdades

C7680 Quando estudava Psicologia, levei um grande susto quando me disseram que a Verdade é algo relativo. A professora, calmamente e com um sorriso compreensivo no rosto, ao conduzir um estudo de caso, ouviu um de meus colegas dizer que a paciente havia mentido ao distorcer informações reais e óbvias. E ela disse, isso não nos interessa. A verdade dela é o que ela nos diz… E é com essa verdade que temos que trabalhar.

Do alto dos meus 15, 16 anos, eu achava que a verdade era uma só. Conforme fui conhecendo as pessoas, percebi que cada um tem a sua verdade, mesmo quando ela não condiz com os fatos empíricos e objetivos da realidade. Meu time preferido é o melhor de verdade, minha religião é o caminho da verdade, minhas opiniões são as verdadeiras, o jeito que eu vejo as coisas é o jeito certo de ver. A verdade, nesse sentido, tem muito mais a ver com o que se acredita do que com o que se vê – está muito mais próxima da fé do que dos fatos científicos.

Pensando sobre a verdade, passei também a pensar sobre a mentira. Tem, sim, quem minta descarada e deslavadamente, esperando, com isso, safar-se de uma situação difícil, ou manipular as pessoas, ou conseguir algo que não teria se dissesse o que realmente pensa e o que realmente vê. E para essas pessoas, a mentira se torna um vício pernicioso e incontrolável, simplesmente porque é o caminho mais curto, o mais fácil.

Mas, nem todo mundo que mente, mente intencionalmente. Para alguns, a realidade é tão pobre e tão medíocre que precisa ser enfeitada, acrescentada de detalhes que a deixam mais bonita. Para outros, a realidade é tão difícil que precisa ser reinventada, fantasiada, sublimada em devaneios mais alegres e amenos. Para alguns, ainda, a realidade é tão dura de aceitar que precisa ser negada, esquecida, superada… Coberta por uma realidade alternativa, que seja mais suportável. E outros são tão covardes que simplesmente fecham os olhos para o que acontece, preferindo ficar na escuridão. Todos eles, de alguma forma, mentem sobre o que realmente percebem. Mais do que mentir para outros, mentem para si mesmos. E essa é a mentira mais triste que existe… E a mais difícil de ser desconstruída. Mas talvez não devam ser chamadas de mentira… E sim de “verdade pessoal”, como minha professora ensinou. É reconhecendo – não ignorando nem atacando – essas mentiras verdadeiras, ou verdades mentirosas, que conseguimos penetrar no universo pessoal de alguém.

Sim, muitas vezes a realidade pode ser facilmente ignorada e substituída por verdades pessoais.

Mas há algumas verdades que não podem ser negadas. São verdades que estapeiam nossa cara, que ficam lá, pulando na nossa frente, mostrando-se, exibindo-se, verdades que não sossegam enquanto não se fazem ser conhecidas. Verdades que se relacionam à justiça, à decência, ao cuidado com o outro, à ética, à coragem, ao amor, à virtude. Essas verdades assombram, dão medo e nos fazem sentir tristes, muitas vezes, porque nos colocam diante da nossa limitação humana… Nos colocam no nosso devido lugar. Verdades que não podem ser negadas são aquelas que nos perseguem, que fazem barulho na porta, que nos incomodam, como coceiras que não podem ser ignoradas, como um espirro que não pode ser barrado. Verdades que nos deixam em total estado de desconforto, e muitas vezes, em choque. Verdades que nos quebram inteiros e nos colocam em pedaços.

Mas aí que está o maior milagre de tudo isso. Assim que são finalmente vistas e encaradas, essas verdades, que não são nem um pouco relativas, mostram-se maravilhosas e fiéis amigas. São capazes de nos recompor, de nos fazer melhores, de nos dar a paz da consciência tranquila, de nos abrir caminho para um novo e espetacular horizonte. Verdades que precisam ser vistas, ao serem vistas e reconhecidas, nos enchem de dor… Mas também de esperança.

E foi o próprio Jesus Cristo quem explicou, uma vez, o porquê:

“…E conhecereis a verdade… E a verdade vos libertará.”

( João 8:32 )

 

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